Dediquei as últimas duas semanas a análise de algumas obras literárias. Confesso que fiquei espantada ao perceber que uma espada e um chapéu de papelão, um monarca bondoso e umas memórias póstumas têm mais relações do que eu poderia imaginar. Venho observando nas multidões, grupos de amigos ou apenas em meu próprio meio social, tentando encontrar um resquício de esperança e luta, um começo de revolução a favor do bem. Não estou dizendo que não encontrei. Paciência, leitor. Isso é só o começo.
Quando eu tinhas meus 12 anos li Dom Quixote pela primeira vez. Fiquei impressionada com a astúcia de um cavaleiro sem nome, com tal vontade de ajudar que se deixava andar pelos quatro cantos do mundo em busca de lutas, acompanhado por seu fiel escudeiro (que não passava de seu vizinho). Hoje, após ler novamente a obra, descobri o que Dom Quixote queria me mostrar. Ele era conhecido por louco, só porque acreditava nos contos literários e tinha fé que o bem venceria o mal. Dom Quixote não era louco. Ele era o mais inteligente de todos. Ele sabia até onde nós chegaríamos.
Li também O Idiota, de Dostoievski. O príncipe fiel e bondoso sendo apedrejado por ajudar aos outros. E pensar que o personagem era quase um retrato do autor. Uma mente brilhante, que sabia articular planos perfeitamente (apesar das crises de epilepsia), mas que era conhecido como "O idiota" devido a sua fama de pessoa humilde e sem autoridade. Já dizia nosso bom amigo Maquiavel: "Melhor ser temido do que amado". Mas volto a dizer-lhe, caro amigo, o príncipe era também a peça mais importante desse jogo, não só por ser o herói literário, mas sim, pois era ele quem manipulava os cavalos e reis do tabuleiro.
Creio que Brás Cubas é o mais familiar aos ouvidos do que qualquer outro. Com sua inteligência magnífica Machado de Assis soube articular uma obra que não pode ser chamada nem de romance, nem de obra realista. O personagem proporciona uma viagem durante sua vida. Para muitos com tom pitoresco, para uns poucos, uma tragicomédia. Uma vida de acomodações e sonos pesados, que finda com delírios e reencontros. O fim perfeito: a lucidez e vontade de lutar, mesmo após sua morte. As memórias são póstumas. Mas não são vistas da mesma forma. Já dizia Brás Cubas: "O menino é pai do homem".
Não tenho a pretensão de ofertar-lhe mais uma dúvida sem explicar a conclusão, meu amigo. Ao observar tudo isso separadamente, encontrei a relação que mantém a todos unidos pelo fio do presente. Procurei incessantemente os Quixotes, os Príncipes e os Cubas. Encontrei alguns perdidos. Esses deixaram-me perceber que ainda existem muitos destes meus heróis literatos. Mas outros mostraram-me que ter esperança é fácil, mas lutar pelo bem é o mais difícil. Por quê? Simples. Saber que existe a guerra é fácil, deixar a rotina por um segundo e plantar uma flor é perda de tempo. Ler nos jornais que mais uma criança foi estuprada e se apiedar, é fácil. Ler, encarar os fatos e tentar fazer a diferença com a disseminação do bem, isso é empenho demais. Ver uma biblioteca vazia e cada vez mais e mais pessoas ignorantes no mundo, isso é fácil. Mas ler, escrever e tentar mostrar o facínio da literatura, isso é coisa para estranhos. Ver um ônibus lotado e pessoas idosas de pé, é fácil. Dar o lugar e sorrir sem tentar justificar, isso é loucura.
Você pode achar que minhas conclusões são precipitadas, meu caro leitor. Mas deve concordar comigo quando digo que todos esses meus heróis podem até existir no mundo, mas não se deixam arriscar o conforto para usar seus poderes de bem. Seja Dom Quixote, O Príncipe ou Brás Cubas. Seja Alice, João ou Maria. Seja a moça da padaria, a menina da praça ou seu pai. Seja eu, você ou ele. Vamos escrever nossa história com o suor tirado das nossas batalhas, sem se importar com fulano ou seclano. Vamos salvar com um sorriso e apoiar com um ombro amigo. Pois no fim das contas, na fuga dos Quixotes, nos delírios dos Príncipes ou na morte dos Cubas, seremos pessoas que lutaram pelo bem e não se arrependem dos minutos a mais. Saberemos o valor de nossas memórias, que não foram póstumas, mas que deixaram como marca a gota de água no incêndio da rotina. E o mais importante: nunca perderam a esperança e a vontade de fazer sua parte.
Quando eu tinhas meus 12 anos li Dom Quixote pela primeira vez. Fiquei impressionada com a astúcia de um cavaleiro sem nome, com tal vontade de ajudar que se deixava andar pelos quatro cantos do mundo em busca de lutas, acompanhado por seu fiel escudeiro (que não passava de seu vizinho). Hoje, após ler novamente a obra, descobri o que Dom Quixote queria me mostrar. Ele era conhecido por louco, só porque acreditava nos contos literários e tinha fé que o bem venceria o mal. Dom Quixote não era louco. Ele era o mais inteligente de todos. Ele sabia até onde nós chegaríamos.
Li também O Idiota, de Dostoievski. O príncipe fiel e bondoso sendo apedrejado por ajudar aos outros. E pensar que o personagem era quase um retrato do autor. Uma mente brilhante, que sabia articular planos perfeitamente (apesar das crises de epilepsia), mas que era conhecido como "O idiota" devido a sua fama de pessoa humilde e sem autoridade. Já dizia nosso bom amigo Maquiavel: "Melhor ser temido do que amado". Mas volto a dizer-lhe, caro amigo, o príncipe era também a peça mais importante desse jogo, não só por ser o herói literário, mas sim, pois era ele quem manipulava os cavalos e reis do tabuleiro.
Creio que Brás Cubas é o mais familiar aos ouvidos do que qualquer outro. Com sua inteligência magnífica Machado de Assis soube articular uma obra que não pode ser chamada nem de romance, nem de obra realista. O personagem proporciona uma viagem durante sua vida. Para muitos com tom pitoresco, para uns poucos, uma tragicomédia. Uma vida de acomodações e sonos pesados, que finda com delírios e reencontros. O fim perfeito: a lucidez e vontade de lutar, mesmo após sua morte. As memórias são póstumas. Mas não são vistas da mesma forma. Já dizia Brás Cubas: "O menino é pai do homem".
Não tenho a pretensão de ofertar-lhe mais uma dúvida sem explicar a conclusão, meu amigo. Ao observar tudo isso separadamente, encontrei a relação que mantém a todos unidos pelo fio do presente. Procurei incessantemente os Quixotes, os Príncipes e os Cubas. Encontrei alguns perdidos. Esses deixaram-me perceber que ainda existem muitos destes meus heróis literatos. Mas outros mostraram-me que ter esperança é fácil, mas lutar pelo bem é o mais difícil. Por quê? Simples. Saber que existe a guerra é fácil, deixar a rotina por um segundo e plantar uma flor é perda de tempo. Ler nos jornais que mais uma criança foi estuprada e se apiedar, é fácil. Ler, encarar os fatos e tentar fazer a diferença com a disseminação do bem, isso é empenho demais. Ver uma biblioteca vazia e cada vez mais e mais pessoas ignorantes no mundo, isso é fácil. Mas ler, escrever e tentar mostrar o facínio da literatura, isso é coisa para estranhos. Ver um ônibus lotado e pessoas idosas de pé, é fácil. Dar o lugar e sorrir sem tentar justificar, isso é loucura.
Você pode achar que minhas conclusões são precipitadas, meu caro leitor. Mas deve concordar comigo quando digo que todos esses meus heróis podem até existir no mundo, mas não se deixam arriscar o conforto para usar seus poderes de bem. Seja Dom Quixote, O Príncipe ou Brás Cubas. Seja Alice, João ou Maria. Seja a moça da padaria, a menina da praça ou seu pai. Seja eu, você ou ele. Vamos escrever nossa história com o suor tirado das nossas batalhas, sem se importar com fulano ou seclano. Vamos salvar com um sorriso e apoiar com um ombro amigo. Pois no fim das contas, na fuga dos Quixotes, nos delírios dos Príncipes ou na morte dos Cubas, seremos pessoas que lutaram pelo bem e não se arrependem dos minutos a mais. Saberemos o valor de nossas memórias, que não foram póstumas, mas que deixaram como marca a gota de água no incêndio da rotina. E o mais importante: nunca perderam a esperança e a vontade de fazer sua parte.
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