1 de junho de 2011

Um sol maior

Era um dia frio de maio. A brisa gelada tornava as maçãs do rosto daquela garotinha cada vez mais afogueadas. Suas gargalhadas cristalinas ecoavam por entre os arvoredos que circundeavam a praça. Eu a observava com entusiasmo e diversão. Não sabia seu nome, nem de onde viera. Sabia sim, que seus pais a permitiram passear por poucos minutos: "Ande logo, senão perdemos o ônibus". Ela não trazia tristeza no olhar, parecia vir de uma família humilde. Seus cabelos eram lisos até demais e seus olhos redondos de cor âmbar faziam o dia de frio valer à pena.
Eu estivera sentada no banco daquela praça no meio do nada por meia hora. Até ali não havia nada de mais. As folhas secas resbalavam em minha calça e o frio me fazia estremecer. Li quinze páginas de meu novo romance até que aquela garotinha tivesse me tirado a atenção.
Não parecia se importar com meus olhos abertos para captar suas brincadeiras juvenis. Apenas segurava as bordas do vestidinho aveludado e rodopiava, sorrindo quando as folhas formavam um redemoinho ao seu redor. Eu não segurei um sorriso, que brotou apenas de ver o mesmo que um dia eu mesma fiz. Quando sua mãe a chamou, ela me olhou profundamente e me deixou o último sorriso, que guardo na memória como um presente inexplicavelmente belo.
Depois daquela pequena penso em quantas coisas são substituíveis em nossa vida. Não digo por mal, muitas vezes o subtituir não é consciente. Apenas esquecemos as coisas boas da vida pois temos obrigações. O tempo passa e as responsabilidades aumentam. O cotidiano nos atropela. E aquela criança que segura na barra do vestido e rodopia, hoje faz contas. Ei....você! Diga-me uma coisa, onde está sua criança? Atráz da mesa do escritório? Ou será que está em casa, estudando cinco horas por dia?
Não te condeno. Eu mesma tenho tanto a fazer. Mas deixe-me lhe dizer o que aprendi com aquele sorriso pueril: A vida é bela demais para sufocar a criança interior. E digo mais! Se você me perguntar o que faço nas minhas horas de criança, eu respondo com prazer: Faço poesia e toco um sol maior.

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